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A crise de trocas de tripulação corre o risco de se tornar uma epidemia de trabalhos forçados enquanto a tragédia atinge a marca de seis meses no Dia Marítimo Internacional

Notícias Comunicado à imprensa 25 Sep 2020

A Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) criticou a inércia dos governos na mitigação da crise de trocas de tripulação, declarando que as atuais restrições de Covid-19 em fronteiras e viagens podem criar uma epidemia de trabalhos forçados e escravidão moderna, já que marítimos estão sendo crescentemente forçados a permanecer trabalhando a bordo contra a sua vontade.

O secretário-geral da ITF, Stephen Cotton, disse que 1,65 milhão de marítimos do mundo foram relegados pelos governos do mundo que permitiram que a crise de trocas de tripulação piorasse e atingisse a marca de seis meses no Dia Marítimo Internacional – 24 de setembro de 2020.

Estima-se que haja agora 400.000 marítimos presos trabalhando a bordo de embarcações e o mesmo número de desempregados em casa e sem poder substituí-los.

Cotton disse: “É uma vergonha que tenhamos chegado à infeliz marca de seis meses nesta crise, sem previsão para terminar. Ao não conceder aos marítimos as isenções pragmáticas de trabalhadores essenciais para embarcar e desembarcar dos navios, os governos estão mantendo os marítimos como escravos, no que alguns chamam de ‘prisões flutuantes’.”

Stephen Cotton disse que a ITF trabalhou com grandes corporações que estavam muito preocupadas com os riscos em suas cadeias de suprimentos se os marítimos não pudessem ser trocados e substituídos por uma tripulação descansada.

“Esta semana nós publicamos um importante relatório especializado que mostra que a crise de trocas de tripulação está colocando a indústria global de navegação sob risco excessivo. Se não tirarmos esses marítimos cada vez mais fatigados, haverá mais acidentes – haverá derramamentos de óleo nos nossos litorais e mortes nos nossos mares.”

“Eu reconheço a liderança da Unilever e de outras corporações ao assumirem a responsabilidade pela saúde e bem-estar dos marítimos em suas cadeias de suprimento e clamarem aos governos que acordem para esta crise que se intensifica.”

“A situação é limítrofe ou equivalente a trabalho forçado e todas as empresas têm a responsabilidade de usar sua influência para exigir intervenção urgente dos governos para pôr fim a esta crise enquanto garantem que suas cadeias de suprimento estejam livres de impactos negativos sobre os direitos humanos dos marítimos.”

David Heindel, presidente da Seção dos Marítimos da ITF, disse que os ânimos da força de trabalho marítima global estão muito exaltados e com razão.

“Hoje é o Dia Marítimo Internacional – um dia em que deveríamos estar celebrando a contribuição das nossas indústrias e humildemente refletindo os agradecimentos do público que viu marítimos, portuários, pescadores e outros da nossa indústria intensificarem os trabalhos e fazerem uma diferença durante esta pandemia”, disse Heindel. “Em vez disso, o Dia Marítimo Internacional de 2020 foi desfigurado pela piora desta crise humanitária, econômica, ambiental e de direitos humanos.”

“Se os governos quiserem celebrar a contribuição dos marítimos para suas economias e se eles realmente quiserem apoiar a sustentabilidade da indústria de navegação, então eles precisam trabalhar, assim como nós fazemos todos os dias no mar, e fazer o que puderem para levar os marítimos exaustos para casa, substituindo-os por tripulações descansadas e garantindo que esses heróis sejam tratados com a dignidade e o respeito que merecem.”

“Os marítimos estão cansados, fatigados e ficando rapidamente desiludidos com sua escolha de trabalhar no mar – e estão preocupados com ter que pagar pelos acidentes inevitáveis resultantes de uma força de trabalho pressionada além de seus limites físicos e mentais.”

“Agora há bem mais de 400.000 marítimos trabalhando além de seus contratos iniciais. Há mais e mais marítimos que já estão a bordo há mais de um ano. Nós nos recusamos a deixar que isso se torne a nova regra. Todos os seres humanos têm o direito de recusar um contrato, de parar de trabalhar e ir para casa – e trabalharemos com empresas responsáveis, nossos afiliados e os próprios marítimos para fazer com que esses direitos sejam cumpridos”, concluiu Heindel.

Obs.:

  1. Número de marítimos em todo o mundo retirado da estimativa da Câmara Internacional de Navegação.
  2. Leia e baixe o relatório do Comitê de Segurança Marítima da ITF Além do limite: Como tomar atalhos durante a pandemia de Covid-19 coloca o sistema internacional de navegação em altíssimo risco.
  3. A última estimativa de 400.000 marítimos que ultrapassaram seus contratos e estão presos trabalhando a bordo de embarcações em todo mundo vem do Grupo Conjunto de Negociação de empregadores da navegação com base em extrapolações de suas frotas para a frota de navegação global.

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