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Novo centro de trocas de tripulação no Quênia graças à ITF

Notícias 01 Sep 2020

No primeiro dia da implementação das novas diretrizes de Covid-19 para troca de tripulação segura no Quênia, Betty Makena Mutugi, inspetora da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) no Quênia, despertou às 4 horas da manhã para garantir que estaria no porto de Mombasa antes das 6.

Ela esperou que dois marítimos ucranianos e um romeno desembarcassem do navio cargueiro MV Petra II na Alpha Logistics.

“Nós vamos para casa”, perguntaram eles. “Quando? Hoje?”, disse um dos marítimos pulando de alegria.

Desde 21 de julho de 2020, mais de 100 marítimos desembarcaram de 18 enormes navios cargueiros e uma linha de cruzeiro para embarcar em voos para casa no porto de Mombasa.

“Cada vez que tripulantes embarcam e desembarcam eles ficam tão felizes, tão animados,” disse Betty.

Alguns tripulantes têm vontade de beijá-la. Ela dá a eles seu telefone para ligarem para suas famílias. Ela pode ouvi-los na linha gritando de felicidade.

Um dos trabalhadores portuários aproximou-se e perguntou o que estava acontecendo.

“Quando fazemos a amarração, conversamos com os tripulantes,” disse ele. “Eles estão cansados. Nunca sorriem. Agora estão felizes. Nunca os vi rindo. O que está acontecendo?”

Betty disse que os tripulantes quase sempre pediam comprimidos para dormir e reclamavam de estresse e depressão quando estavam no porto durante a pandemia. Um dos marítimos disse a ela que era como estar em uma prisão. Ele já estava há meses sem deixar o navio. Quando soube que finalmente estava indo para casa, agradeceu e chamou-a de sua heroína. Ela disse: agradeça à ITF e ao governo do Quênia.

A ITF tem tido um papel fundamental em todas as etapas, desde o início da nova política da OMI até sua implementação. Quando Betty recebeu a primeira correspondência de Londres pedindo que pressionasse o Quênia a adotar o protocolo, ela estava ao telefone com as devidas autoridades governamentais no dia seguinte. Ela insistiu que os sindicatos deveriam estar envolvidos para que funcionasse.

Todas as principais partes interessadas – Ministério dos Transportes, Departamento de Estado de Navegação e Assuntos Marítimos, Autoridade Marítima, Autoridade Portuária do Quênia, Guarda Costeira do Quênia, Autoridade Portuária de Saúde, Saúde Pública, Kenya Airways, a ITF, o Sindicato dos Marítimos do Quênia e a Associação dos Agentes de Navegação do Quênia – trabalharam juntos o dia todo, sem comida e só com água sobre a mesa, para conseguir um acordo sobre como a troca de tripulação deveria acontecer, lembra-se ela.

“Alguns de nós nunca nos encontramos antes”, disse ela. “Ao sairmos, todos tínhamos o contato uns dos outros.”

O novo protocolo de trocas de tripulação do país é tão bem-sucedido que navios estão mudando de curso para vir para o porto. Desde a adoção das Diretrizes de trocas de tripulação de navios e repatriação de marítimos que cumprem com as medidas de prevenção da transmissão da COVID-19 em 6 de julho, Mombasa tem processado até três ou quatro trocas de tripulação em alguns dias.

Determinada a fazer com que o sistema funcione, pelos primeiros quatro dias, Betty estava no porto antes das 6 da manhã. Ela acompanharia os marítimos até o aeroporto para se despedir deles.

Primeiro, havia problemas com as empresas aéreas e traslados. Um marítimo ficou preso em Dubai por dias. Agora, a maioria deles voam com a Kenya Airways, mas não é obrigatório.

Agora que o protocolo está funcionando, Betty só precisa ser copiada nos emails relevantes ou fazer uma rápida chamada telefônica, disse ela.

 

Como funcionam as trocas de tripulação no Quênia?

Os tripulantes desembarcando do navio no Porto de Mombasa devem ter um voo confirmado para deixar o país dentro de 48 horas, a documentação necessária e autorização da Autoridade Portuária de Saúde.

A tripulação embarca em um veículo dedicado que pode ser compartilhado somente pela tripulação de um único navio. É obrigatória a verificação da temperatura. Todos devem usar máscaras. Mas, não há quarentena para a tripulação após deixar o navio - os tripulantes vão diretamente para a imigração para embarcar em seu voo (ou passar a noite em um hotel dedicado).

Betty Makena Mutugi explica que “o governo queria colocar os tripulantes em quarentena, mas eu perguntei por que eles deveriam ficar em quarentena se já estavam a bordo há mais de seis meses? Se eles foram autorizados pela saúde pública, não há necessidade de ficarem em quarentena. Deixe-os ir para casa e fazer autoisolamento”, disse ela.

Todos os tripulantes que chegam para substituir a tripulação do navio (os que entram) devem ficar em quarentena por 14 dias e ter um resultado negativo do teste PCR para COVID-19 antes de voarem para o Quênia. Seu navio deve estar no porto antes que eles cheguem.

Nos termos das regras do Quênia, não são só os marítimos que concluíram seus contratos que podem solicitar ir para casa, segundo as diretrizes. Tripulantes ou marítimos feridos com motivos humanitários para repatriação também podem solicitar, assim como aqueles que não precisam de substituto.

Betty disse que os exercícios de trocas de tripulação no Quênia tiveram sucesso até o momento devido ao apoio e colaboração de todas as partes interessadas da indústria marítima no Quênia.

A OMI agora relata que cerca de 50 países estão implementando os protocolos de trocas de tripulação.

O Quênia está no caminho certo, mas precisa melhorar - ITF

Entretanto, a política está longe de ser perfeita, segundo a ITF. Nossa preocupação é a curta janela de tempo em que as trocas de tripulação devem acontecer.

“A janela de 48 horas às vezes é inviável e pode causar problemas no futuro”, disse Steve Trowsdale, Coordenador da Inspetoria da ITF. “Isso já foi problema na Índia e em Cingapura.”

“Coordenar trocas de tripulação pode ser muito difícil, principalmente com poucos voos e a exigência de que o navio esteja no porto antes que a nova tripulação possa entrar no país pode tornar inviável. E se um navio não conseguir chegar na data esperada devido à falha mecânica ou porque tiveram que alterar o curso para assistência médica?”

Continua a campanha da ITF para educar os governos sobre melhores práticas de protocolos de trocas de tripulação, incluindo isenções de viagem e restrições de trânsito. Estima-se que haja atualmente 300.000 marítimos presos trabalhando a bordo de embarcações além de seus contratos originais, precisando de troca de tripulação.

 

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